segunda-feira, 16 de dezembro de 2335

DEFINIÇAO DE COLÔNIA NO SÉCULO XXIII

Colônia é um termo muito antigo, já foi descrito de várias formas, mas após a criação da CT1 (Colônia Terrestre 1) bem na área glacial da antiga Amazônia, no continente Brasil-América, os termos antigos foram esquecidos e Colônia passou a ser sinônimo de vida pois viver fora de uma na Terra do S23 (século XXIII) é algo quase impossível, embora muitos habitantes ainda sobrevivam desta forma, mas não se sabe mais quantos, pois não se faz mais recenceamento fora das Colônias.

Uma definição simples de Colônia seria um conjunto de construções que abrigam quantidades limitadas de pessoas, são comunidades auto-suficientes em geração de energia, alimentos e água e conectadas a outras Colônias através de holoredes, mantidas por satélites e retransmissores de diversos tipos.

Existem tres típos básicos de Colônias, elas não são sempre iguais mas foram divididas em: Colonias Terrestres (CT); Colônicas Aquáticas (CA) e Colônias Espaciais (CE).

As CT foram as primeiras a serem criadas, seguidas das CA e das CE, que só surgiram depois que o homem passou a dominar novamente o espaço, que lhe foi proibido por mais de um século. Apesar de serem mais antigas, as CT são as mais instáveis, por estarem sujeitas as atividades de ajustes de camadas e placas tectônicas do planeta, ou seja, os terremotos, que por pouco não destruiram nosso planeta.

Por segurança, todas as Colônias tem sempre um plano de fuga em massa para eventualidades e tem sempre um projeto de Colônia pronto a ser iniciado em caso de problemas. As Colônias terrestres também tem acordos que permitem o remanejamento da população em caso de catástrofes.

Por alguns anos as CA foram as piores Colônias para se viver, algumas chegaram a perder todos seus habitantes mas depois que foi criada uma nova tecnologia de construção móvel flutuante estas Colônias passaram a ser as mais seguras, mas por outro lado são as que menos mantém ligação entre sí e entre as outras Colônias, são também auto-suficientes e possuem toda a tecnologia que a humanidade adquiriu rapidamente nos últimos 100 anos, mas seus habitantes simplesmente preferem não se comunicar com outras Colônias.

As CE ainda são novidade, após os repetidos fracassos de estabelecer Colônias na lua, optou-se estações espaciais, que demonstraram ser mais seguras, no entanto dependem do comércio com as Côlonias terrestres e aquáticas pois não tem auto-suficiência em dois artigos importantes, água e alimento, mas isso é compensado pela sua facilidade em executar mineração em Vênus , manusear e produzir componentes essenciais a tecnologia de todas as Colônias, sem contar que são responsáveis pela manutenção dos poderosos satélites de holoredes, que permitem a comunicação.

São estes os tres modelos básicos de Colônias. a população máxima de cada uma raramente ultrapassa 100 mil habitantes e são raras as Colônias com essa quantidade de pessoas, a preferência atualmente é construir Colônias para no máximo 20 mil colonitas.

O crescimento populacional é rigidamente observado, com expectativa de vida de até 200 anos por pessoa só é permitido o nascimento de uma criança após a morte física de uma outra pessoa, diz-se "morte física" porque atualmente é possível armazenar a consciência e conhecimento das pessoas, principalmente as que tem características acima do padrão.

O primeiro homem a ter sua preservação virtual garantida foi justamente o criador da primeira Colônia, Willian Henry Gates III, (mais conhecido como G3) que conseguiu a proeza de passar seu cérebro e consciência para um sistema de I2.

Suas idéias são um pouco ultrapassadas para nossos dias, mas não se pode negar que ele estava bem a frente de sua época quando era um ser vivo, ou melhor dizendo, operacional, foi também o primeiro homem também a ultrapassar a idade dos 170 anos e provar que era possível viver mais que os normais 150 anos do século passado.

As Crônicas das Colônias são textos, escritos por diversos autores que contam esta fantástica história.

quarta-feira, 21 de julho de 2156

SEXO NO SÉCULO XXII

Os textos a seguir não crônicas, são textos apócrifos, escritos por um - e aqui peço licença para usar um termo de lingua morta - "voyeur" colonita, portanto não se sabe sua origem, mas é um interessante registro de nossos tempos, o texto original estava escrito em forma de diário e foi respeitado este formato:

Julho, 21, 2156 - horário universal @128
local: não informado

Faz alguns dias que não entro nas holosalas de prazeres sexuais, as pessoas lá não querem respeitar minha preferência de só observar e ficam querendo me tocar e parece que quanto mais eu reclamo mais eles querem me provocar.
Nunca gostei de ser tocado, tentei com mulheres, com outros rapazes, com animais e até com aqueles seres de gosto duvidoso que algumas pessoas assumem como holoavatar.
Gostaria que respeitassem isso, mas já me marcaram e basta eu chegar em uma sala pública e logo vem alguém fazer o que não gosto.
Podia desligar algumas sensações, mas isso não muda o fato de que estarão me tocando e principalmente que fazem isso só porque não gosto.
Estou furioso, mas não há jogo de guerra que me acalme.

Julho, 22, 2156 - horário universal @137
local: não informado

Que idéia fantástica, porque não pensei nisso antes, hoje criei um holoavatar de um holopsicólogo e entrei na sala, ninguém se aproximou, as pessoas tem medo dos HoPs e os evitam, todos fingiam que não me viam e finalmente tive uma noite em que só pude fazer o que gosto, observar.
Adorei este disfarce, espero que ninguém venha questiona-lo, afinal nas holosalas vale qualquer coisa, não creio que existam leis relativas a se fazer passar por um HoPs.
Valeu a pena ficar uns dias sem acessar, acho que as pessoas se esqueceram de mim.
Não sei porque tenho essa aversão a ser tocado, mas não gosto nem de cumprimentos, então como posso suportar abraços ou (argh!) beijos?
Mas gosto de ver as pessoas se tocando, ah sim, isso eu gosto muito e como há muitas pessoas que gostam de se exibir é juntar a fome com a vontade de comer (no sentido de alimentar, claro).
Vou aproveitar que estou feliz e escrever um pouco sobre como é a vida sexual das pessoas nesta época.
O sexo deixou de ser tabú faz tanto tempo que ninguém sabe precisar quando começou, mas dizem os cientistas que foi quando erradicaram as doenças das Colônias, principalmente aquela terrível, que se transmitia pelo contato sexual e que dizimou boa parte da humanidade, matando mais pessoas do que as grandes trajédias da história.
Sem o medo de ficar doente e com os acréscimos de saúde e modificações no corpo que a medicina passou a proporcionar as pessoas começaram a praticar sexo como se fosse a única coisa realmente prazeirosa da vida, todos os tabus cairam e o sexo tornou-se algo público, era comum ver casais ou mesmo pessoas do mesmo sexo se exibindo nos locais mais inusitados, tornou-se tão comum que ninguém ligava mais, nem as crianças.
Eu era muito novo, mas sempre gostei de ver as pessoas se amando, não precisava ser sexo explícito, um simples carinho era motivo de prazer, desde que não fosse em mim, odiava até quando me afagavam o cabelo, coisa que faziam muito quando eu era jovem e eu tinha que ficar quieto pois somos educados para não ter reações negativas com as pessoas.
Mas a história conta que por volta de 2120 foi criada a lei que proibia a reprodução, pois o excesso de crianças estava causando problemas, já que ninguém cuidava delas corretamente, como isso coincidiu com as primeiras experiências de holoreprogravura não demorou para as pessoas trocarem o sexo real por outro ainda mais prazeiroso, o sexo virtual, que permitira prazeres nunca sonhados antes.
Quando nasci já era comum as pessoas não se encontrarem mais fisicamente, já que o encontro com o holoavatar era muito mais interessante, a mente de uma pessoa no corpo de quem ela desejasse, inclusive alienígenas ou monstros retirados das imaginações mais delirantes.
Mas agora estou com sono, vou dormir, continuo a escrever amanhã, depois que usar novamente minha fantasia de HoPs.

Julho, 23, 2156 - horário universal @98
local: não informado

Estou furioso, descobriram meu disfarce e passei a chamar ainda mais atenção que antes, malditos hackers que invadem a privadidade de nossos disfarces, não sei como me livrar deles.
Sai antes da sala.
Vou escrever mais sobre a história, assim a raiva passa.
Ontem eu dizia que o sexo com holoavatar tornou-se uma mania e foi a partir daí que algumas Colônias iniciaram o processo que levou as leis de reprodução controlada, as mulheres poderiam continuar a ter filhos, mas somente quando morresse alguém na Colônia, assim a população seria melhor controlada, em algumas Colônias que não podiam crescer isso era essencial e com o tempo todas as Colônias passaram a exercer controle de população.
Quando nasci as pessoas já conseguiam viver até por 200 anos e com perdas mínimas das capacidades físicas, mal se podia saber a diferença entre uma pessoa de 50 anos e outra de 150, as diferenças só eram visíveis até os 30 anos, após essa idade todo mundo começava a usar tratamentos que as mantinham com aparência jovem, algumas começavam antes, há casos de pessoas que morrem aos 180 ainda com aparência de uma criança de 12 anos.
Atualmente ninguém faz mais sexo fisico real, até porque sabe-se que quanto menos contato uma pessoa tem com as outras melhor é sua saúde e como o contato virtual é exatamente igual ao que seria o físico quem está preocupado sem saber se há diferenças?
Bom… eu estou, não gosto de contato físico, mesmo nos ambientes holográficos e não é só a sensação do toque - que eu poderia desligar - mas saber que alguém está me tocando é uma sensação desagradável.
Tentei resolver isso de várias formas, só não apelei para os HoPs, são pessoas estranhas que invadem nossas vidas e ficam fazendo críticas, quero distância deles.
O que gosto mesmo é de ir a um lugar e observar as pessoas, poderia ficar invisível mas o que me dá prazer é quando elas sabem que estou ali olhando e se exibem para mim, em alguns casos foi maravilhoso porque elas ficavam ali, sem querer me tocar o que eu tocasse nelas, mas agora estou sendo perseguido por esses malditos hackers, que ao me ver vem logo me abraçar, sabendo conscientemente que não suporto isso.
E não adianta reagir, o que eles querem é exatamente isso, que eu reaja, gostam de me ver nervoso.
Os sistemas que usamos são fantásticos, antes de entrar em uma sala posso reconfigurar completamente minha aparência e aparecer no lugar de qualquer jeito, sempre preferi entrar com a minha aparência normal, gosto de mim como sou e acho de um tremendo mau gosto aqueles sujeitos que entram nas salas com as cabeças cortadas ou 8 braços, isso pra não falar dos que ostentam orgãos sexuais desproporcionais, uma vez vi um que era apenas isso, um orgão sexual com pernas e braços, que coisa horrível, mas fez sucesso e poucos dias depois tinha montes de pessoas com aquele formato, homens e mulheres, felizmente cansaram disso pois era bizarro demais.
Mas há pessoas que realmente são originais, uma vez vi uma mocinha linda, que parecia absolutamente com uma humana normal mas tinha um belo rabo de macaco que usava com muita maestria em seus parceiros e estes pareciam gostar muito da brincadeira, eu não suportaria mas achei muito interessante o poder de sedução que ela exercia nos homens com aquele simples rabo.
Algumas pessoas aparecem em forma de robôs, são tão perfeitos que chego a confundir com os robôs de verdade, que fazem parte de nosso cotidiano, limpando nossa casa e nos ajudando nas tarefas desagradáveis, é estranho ve-los ali fazendo algo que um robô real jamais faria, pois são programados para evitar ao máximo a interação com uma pessoa de carne e osso, na verdade eles se escondem sempre que um humano entra em um local onde esteja um robô, provavelmente resultado daquela época em que alguns robôs perderam o controle e quase destruiram uma colônia inteira.
A partir daí deixaram de ser tão visíveis, sei que ainda existem e que dependemos deles para muita coisa, mas eles também dependem de nós para existir, foram construídos de forma a só funcionarem sob comando de nossa mente.
Nossa… já é tarde, chega por hoje…

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Aqui termina o relado deste desconhecido colonita, os textos foram recuperados a partir de dados mal apagados de um holobackup, provavelmente foram encontrados pelos citados hackers e colocados na holorede só para mostrar ao autor que ele era vulnerável.
Apesar do sexo ter se tornado uma coisa banal ele é tão banal que ninguém perde tempo escrevendo sobre sensações. Sabe-se que todo mundo pratica o sexo virtual várias vezes por dia e algumas pessoas só fazem isso, não se dedicam a mais nada, mas para os estudiosos e profissionais que preferem usar seu tempo com algum trabalho é considerado um instinto baixo, a ser ignorado e indigno de comentários, assim como outras atividades que nosso corpo precisa fazer mas preferimos fingir que não existem. Algumas pessoas até chegam a retirar do seu corpo alguns orgão responsáveis por ingestão e exaustão dos dejetos e os substituem por equipamentos que fornecem ao organismo o necessário, de forma mais eficiente do que as naturais, são os cyborgs, meio humanos meio robôs, muitos acreditam que o G3 ainda está vivo e que seu holoclone é ele mesmo, que foi preservado em um organismo cyborg.

sábado, 16 de dezembro de 2006

BODYGLOVE

Antes dos I2 se tornarem padrão para conectar humanos a sistemas cibernéticos a ciência do fim do S21 e início do S22 dividia suas preferências entre este dispositivo e um outro, que se tornou um dos maiores vícios do ser humano.
Nesta época, haviam dois ramos da tecnologia, que brigavam pela popluaridade, um deles era defendido pelos eHMC, (engenheiros holomecatrônicos) uma nova classe de engenheiros que surgiu com o domínio dos processos de holoreprografia e estes eram apoiados pelos HoPs (holopsicanalistas), também uma nova classe de estudiosos. Mas eram jovens estudantes e não eram levados muito a sério.
Gates III, que era o homem mais velho do planeta apoiava a outra categoria, os cientistas adeptos da cibernética, que acreditavam que o caminho para a conexão do homem com a máquina só podia ser feito com uso da cibernética e estudavam o uso de conectores diretamente ligados a medula espinhal, em contato direto com o cérebro.
O produto que fez o mundo dos colonitas esquecer a disputa e optar por apenas um dos ramos foi a BodyGlove, um dispositivo para vestir, que permitia imersão completa na realidade virtual.
Uma BodyGlove era um dispositivo interessante, por fora uma roupa com “tecido” emborrachado, que se adaptava ao corpo das pessoas de forma confortável, o responsável pela “magica” estava dentro da estrutura da borracha, uma malha de microcircuitos capazes de fazer uma pessoa sentir as sensações de forma tão realista que marcou a época em que o colonita parou de querer se locomover.
Para que ir num lugar, se através da Bodyglove a pessoa podia sentir o calor ou o frio, sentir cheiros e ouvir sons em puríssimo polyestereo sem sequer passar pelos tímpanos. Enxergava melhor, só sentia frio ou calor se desejasse e se quissesse uma massagem bastava dar o comando que estava imediatamente em um ambiente harmônico com a simulação do tipo de massagista preferido de cada um.
Os emuladores de paladar, que eram parte da roupa, junto com estimuladores bucais mudaram os hábitos alimentares do colonita, os indesejados complexos vitamínicos que as pessoas não gostavam de usar podiam se transformar em um saboroso bife ou em uma bela rúcula, de acordo com a preferência de cada um e para que beber água se podia receber um soro fisiológico muito mais salutar enquanto imaginava estar saboreando um bom vinho ou mesmo uma água puríssima.
Trajando uma BodyGlove completa a pessoa podia ir no restaurante mais sofisticado e pedir o prato mais fino, o vinho mais caro, sentir os sabores e aromas, segurar talheres de ouro e até mesmo mastigar e isso sem precisar sequer sair da sua confortável poltrona.
As primeiras holoreprogravuras não tinham a qualidade das atuais e nem podiam ser geradas em tempo real, eram simulações, mas de qualquer forma simulações tão perfeitas que o cérebro de uma pessoa comum não podia distiguir a diferença, apenas as pessoas com cérebros mais estimulados percebiam que estavam em um mundo falso, a mas a maioria dos colonitas ainda usavam menos que 10% de seu cérebro e preferiam passar seus dias deitados, usando sua BodyGlove.
Se houvesse dinheiro naquela época, Gates III teria se tornado novamente o homem mais rico do mundo, mas no S22 o dinheiro não existia mais, já tinha sido substituido por créditos, que eram uma moeda de troca, os sistemas informatizados avaliavam a capacidade de troca de um produto e transformavam isso em créditos. Sempre que uma Colônia precisava negociar com outra, transferiam créditos.
Os sistemas de troca informatizados, eram mais inteligentes que os homens nas questões financeiras e sabiam valorizar cada produto com padrões diferentes para cada lugar, nos lugares onde a comida era abundante esta era otimizada para ser trocada por tecnologia - por exemplo - nos lugares onde havia mais tecnologia do que comida, A balança comercial das Colônias era sempre equilibrada e com isso as pessoas sequer precisavam trabalhar, podiam ter o que quissessem e fazer o que bem entendessem.
A BodyGlove quase desestabilizou o sistema de créditos, pois houve um momento em que havia mais procura do que oferta e foi a primeira vez, em mais de meio século de existência do sistema de créditos que isso aconteceu.
Mas muito em breve havia Bodygloves para o mundo inteiro, a tecnologia para fabricá-la nem era muito complicada e rapidamente passou a ser um artigo tão banal quando qualquer outro.
As I2 ainda não existiam em grande escala, já havia pessoas usando até mesmo implantes de I2, mas o mundo só queria saber da Bodyglove.
Com ela se podia ter qualquer sensação, se a pessoa queria sentir o vento no rosto era possível, então era só se instalar em um simulador de veículos e pronto, qualquer um podia dirigir um conversível nas fabulosas estradas holoreproduzidas , uma sensação só possível em simulação, pois faz tempo as estradas deixaram de existir. Gates III era um ardoroso fã desta prática, criava carros para sí mesmo e brincava com eles até cansar, depois os disponibilizava para o resto do mundo, seu prazer era apenas ser o primeiro a usar.
A reconquista do espaço aéreo já era uma realidade, mas não se podia mais usar aviões ou helicópteros, as turbulências no ar tornaram-se cada vez piores e isso inviabilizava qualquer tipo de vôo em que não se usasse os EG (Eliminadores de Gravidade) que eram extremamente eficientes mas lentos, um EG só podia atingir velocidades maiores no espaço exterior.
Com uma Bodyglove e o programa certo, qualquer um podia ser astronauta ou piloto de caça, podia até voar como se fosse o Super-Homem, um herói mitológico do S20.
A roupa fazia qualquer coisa e quando se diz qualquer coisa é para entender exatamente isso: qualquer coisa.
Inclusive sexo.
Até a criação das primeiras Bodygloves o homem ainda praticava o sexo com contato físico, não era uma prática tão difundida quanto no passado, até porque as severas restrições a maternidade impediam isso e apesar de todo colonita do sexo masculino ser vasectomizado ainda em criança, haviam os acidentes e alguns homens ainda eram capazes de engravidar as mulheres. Mas desde que se aceitou a punir a maternidade ilegal com a morte do macho responsável os homens começaram a ter medo de fazer o sexo tradicional e a prática da masturbação tornou-se a modalidade preferida de todos. Sexo igual ao do S20 era muito interessante, mas realmente era perigoso.
E a Bodyglove trazia uma novidade fantástica, os DonglePlugins, aparelhos que se adaptavam as Bodygloves para simular o sexo com a mesma realidade do S20. Alias essa era a propaganda dos dops, como passaram a ser conhecidos os DonglePlugins.
Havia muitas variações de dops, para homens, para mulheres, para transexuais e o estimulador bucal, que foi criado para simular a mastigação passou a ter uma função muito diferente.
Com esse retorno a sexualidade dos povos antigos os colonitas tornaram-se sedentários, a maioria deles não saia mais de seus cubículos e foi a partir deste hábito que os cubículos se tornaram tão menores, as pessoas simplesmente não precisavam sair para mais nada. Uma vez vestido com sua Bodyglove e conectado ao seu equipamento de comunicação um colonita fazia virtualmente o que quisesse. Na verdade saia da realidade, mas o mundo virtual era muito mais parecido com a realidade que os homens conheciam e traziam na lembrança do que a vida em uma Colônia.
O ar de uma Colônia era viciado, ar puro - claro - mas era viciado, não tinha o mesmo frescor que o ar falso que uma pessoa sentia ao entrar no simulador, e este é apenas um exemplo, a verdade é que os simuladores eram muito mais atraentes do que a vida real.
Mas nem tudo era sexo, em segundo lugar vinham os jogos, que se tornaram um vício terrível, com uma BodyGlove configurada para um jogo de guerra, podia-se sentir a penetração de um projetil na pele e cada um podia regular de acordo com sua sensibilidade, mas na verdade o que ocorria era que os sensores da roupa criavam uma pressão localizada que apenas dava ao jogador a sensação de que havia sido atingido.
Se estivesse em um simulador de carro e sofresse um acidente, as corretas pressões que davam sensações de ossos quebrados, peitos esmagados ou mesmo cabeças sendo arrancadas eram sentidas, mas não aconteciam de verdade.
Este foi o primeiro problema que a BodyGlove trouxe para os er humano, havia dispositivos de segurança para evitar que a roupa causasse danos fisícos mas o nosso poder de imaginação foi subestimado e colonitas começaram a morrer sem que os médicos descobrissem as causas e demoraram a perceber que as causas eram as Blodygloves, pois todo mundo tinha uma e morrer trajando uma BodyGlove não era algo que chamasse a atenção para o traje, na verdade a preocupação era sobre as pessoas estarem morrendo, em um sistema social que havia erradicado doenças, tinha capacidade de regenerar tecidos e controlar o DNA. Era realmente muito estranho alguém morrer sem ser de causas naturais.
Foram justamente os HoPs que descobriram a causa, e desde então passaram a ser mais respeitados.
Analisando as últimas ações das pessoas que haviam morrido, eles descobriram que todos - sem excessão - estavam participando de alguma atividade de risco e tinham suas BodyGloves reguladas para o máximo de dano.
Não havia dano real, e portanto não havia como um legista achar a causa, afinal a roupa provocava apenas sensações, mas foi descoberto que o nosso cérebro entende estas sensações como reais e se desliga, mais ou menos como acontece com um desmaio, só que não há volta, é um desligamento pra valer. Com isso descobriu-se finalmente o que acontecia quando os primeiros sensitivos faziam esperiências com macacos e os macacos morriam quando a pessoa abandonava sua mente, o cérebro deles achava que estavam mortos e simplesmente desligava.
Isso não foi suficiente para acabar com a moda das BodyGloves, os dispositivos de segurança foram ampliados, a possibilidade de colocar a configuração no máximo foi retirada e até os programas foram modificados, com isso as mortes diminuiram, mas não pararam, até porque algumas pessoas insistiam em retirar as proteções e manter suas sensações no limite máximo.
O que encerrou mesmo a era das BodyGloves foram duas descobertas simultâneas.
A primeira foi a constatação de que a roupa tornava as pessoas totalmente sedentárias e depois de apenas uns 10 anos usando uma BodyGlove, uma pessoa sadia tornava-se obesa e perdia o controle de seus membros, era possível reverter com a ação de mudanças no DNA, substituição de orgão por correspondentes cibernéticos e outros avanços da medicina, mas esse não era o único problema, estas pessoas tornavam-se também párias, deixam de trabalhar e a única coisa que desejavam era ficar ali se divertindo com seu brinquedo.
Isso sozinho não era um problema, mas estudos indicaram que a vida nos simuladores iria provavelmente levar a humanidade novamente para um caminho errado.
Somente quando os técnicos conseguiram provar que um I2 era capaz de dar a uma pessoa as mesmas sensações que uma BodyGlove, mas sem os efeitos colaterais é que o mundo mudou e a virtualidade passou a ser uma extensão de nossa vida e não uma substituição.
Com a ampliação das capacidades cerebrais já nas crianças e ensinando-as a controlar e dividir diversão e trabalho os colonitas voltaram a ser produtivos e o melhor é que os novos equipamentos permitiam que trabalhassem e também se divertissem pois os mundos virtuais deixaram de ser apenas simulações, já que era possível, através da holoreprografia em tempo real , alterar de verdade um lugar, interagir com ele.
Com a nova tecnologia era possível um homem assumir - por exemplo - o controle de um RoP e fazer um reparo em uma estrutura defeituosa e dois minutos depois esta pessoa podia estar tomando um café na simulação de Páris do S19 e ver Santos Dumont pousar com seu balão e vir lhe fazer companhia, ou então assumir o papel daquele detetive criado pelo escritor Arthur Conan Doyle , ou de seu ajudante, havia tudo para todos os gostos e o melhor de tudo é que o trabalho podia ser feito apenas nas horas vagas.
Para o bem da humanidade as BodyGloves se transformaram em peças de museu, mas apenas museus virtuais, já que - até onde se sabe - foram todas destruidas.

HUMANOS LIVRES

Seu nome é 845722-C, o C identifica que é da terceira geração de uma das poucas familias organizadas que restam no ME, ou seja, o Mundo Externo.
Seu apelido é 84C, parece engraçado para quem nunca viu uma pessoa ter números no lugar do nome, até porque apenas os RbP tem número nas Colônias, seria ultrajante para um colonita receber um número para identificá-lo.
Mas 84C não é um colonita, nasceu em 2089, nas proximidades das construções da sétima Colônia, que estava para ser inaugurada, exatamente no local onde foi a segunda capital do Brasil, chamada Brasilia, antes dela ser transferida para a CL1 ou seja a primeira Colônia.
Quando a CT7 começou a ser construída a idéia era justamente que a capital do Brasil voltasse para aquele local, mas antes da construção terminar aconteceu a grande revolução que eliminou a centralização dos governos, mas isso é outro assunto.
84C procurou aquele lugar com a mesma esperança que sempre movia os chamados HL, ou seja, Homens Livres, mas cujo único sonho era serem admitidos em uma Colônia.
Sempre que se construia uma nova Colônia era a mesma coisa, vinham pessoas de todos os cantos e acampavam ao redor delas, na esperança de serem admitidos, o que raramente acontecia pois os HL tinham - quase todos - a saúde comprometida pela exposição a radiações e não havia como passarem nos rígidos exames que eram realizados antes de um habitante ser admitido em uma Colônia.
Mas esta situação era interessante para os construtores pois os HL eram mão-de-obra mais barata que a dos RpP e muito úteis para os primeiros momentos da instalação, quando era preciso fazer escavações gigantescas e o EH (escudo harmônico) ainda não havia sido instalado.
E os HL não tinham medo dos RbP, até se entendiam muito bem com eles e esta era a razão de sua utilização ser muito dispendiosa, eram construídos de forma a durar apenas o tempo suficiente para cumprir sua missão e depois se auto-destruiam, tudo isso para não permitir o acesso dos HL aos RbP ou eles podiam ser reprogramados e depois utilizados com outros objetivos.
Era sempre igual, no início da construção de uma nova Colônia os HL chegavam e acreditavam nos boatos de que haveria espaço para alguns deles naquela Colônia e realmente sempre havia alguns sortudos que eram aceitos, justamente para manter essa ordem. Ao final da construção, quando já tinham a certeza que nada aconteceria os HL começavam uma guerra contra o lugar, uma guerra que quase nunca conseguiram ganhar.
Não fazia muita diferença para a maioria daquelas pessoas, o tempo médio de vida de um HL era de 35 anos, um HL com 50 anos de idade era uma raridade e normalmente viviam nas grandes cavernas onde havia alguma tecnologia, eles só não dominavam a holotecnologia, se tivessem acesso a ela poderiam construir suas próprias Colônias.
As segunda e a terceira Colônias, foram construídas de forma a aliviar a dura vida das pessoas que estavam em áreas de maior risco mas essa postura demonstrou ser um fracasso, uma simples doença podia dizimar muitos habitantes e a humanidade ainda não dominava o controle genético.
Além do mais estas Colônias foram construídas para muita gente e logo se descobriu que é melhor ter várias pequenas Colônias do que uma grandona, alias este é o princípio básico que domina a sociedade atual, não adianta ser grande o melhor é ser pequeno e eficiente.
Como nesta época ainda não se dominava muito bem os EH, tudo era construído de forma a abrigar o maior número de pessoas possível, exatamente o contrário do que foi feito na CT1, a menor Colônia construída. Ela foi criada para abrigar 7 mil pessoas, mas por muitos anos teve que com a superlotação, chegou a ter 20 mil habitantes e isso só foi resolvido quando construiram a CT4, localizada onde ficava antigamente Buenos Aires, a velha capital da Argentina.
Quase que simultâneamente se construiu a CT5, no extremo oeste do estado de Recife, que na época era dominado pelos imigrantes japoneses, que desejavam mais independência e compraram a tecnologia para construir uma Colônia só para eles.
A sexta Colônia não deu certo, naquela época ainda não se separavam as Colônias em categorias, pois a sexta Colônia na verdade teria sido a primeira CA, ou seja, uma Colônia Aquática, teria … porque ficou mais conhecida como a primeira Colônia que não deu certo, levando a morte as 45 mil pessoas que lá viviam, mas isso é outra história.
84C era uma criança quando construiram a CA1 e tinha sido aprovado para ir viver nela, mas seus pais foram reprovados e ele preferiu não ir sozinho e contra a vontade de seus pais desistiu de ir viver na Colônia, o que foi motivo de ser ridicularizado por anos, até acontecer a grande tragédia que levou a CA1 para o fundo do Atlântico e nunca mais se teve notícias dela.
Ironicamente a CA1 foi batizada informalmente de ATLÂNTIDA e teve o mesmo destino que o antigo continente que ainda não se comprovou se realmente existiu.
A CA1 também nunca existiu, ela era chamada de Sexta Colônia e depois que foiu destruída simplesmente continuaram contando sem alterar a ordem, mas quando decidiram tentar novamente fazer uma Colônia Aquática já existia a convenção e ela foi chamada de CA1, inaugurando a sequência como se fosse a primeira e realmente era, até porque mudaram completamente a tecnologia para construí-la.
Mas vamos voltar a construção da CT7 …
Lá estava 84C, com a esperança de ser admitido nesta nova Colônia. Seu pai já havia morrido há alguns anos e sua mãe não pode acompanha-lo, provavelmente quando a deixou foi a última vez que a viu e não foi uma boa visão, a velha senhora C, tinha durado mais que o normal mas aos 40 anos amargava um estágio terminal de cancêr, causado pela radiação constante de quem viveu mais tempo do que devia na superfície do planeta. Os cientistas queriam estudar a doença até o fim e mantinham as pessoas vivas para fazer experiências, era uma época muito contubada para alguém contestar a ética (ou a falta dela) nesta postura, mas se não fosse este esforço é provável que a humanidade não sobrevivesse.
A Sra C (que odiava seus números) estava isolada e seu filho teve que se despedir dela através de um circuito de TV, estavam no mesmo local, mas não podia haver qualquer contato entre mãe e filho, para proteção dela, cujo corpo não tinha mais defesas contra micro organismos e a única forma de mante-la viva era coloca-la em total isolamento, algo terrível para uma pessoa que tinha coragem de ir até mesmo ao mar e mesmo assim conseguiu viver mais que as outras pessoas, o marido morreu bem antes.
A única coisa que disse ao filho foi para ele não ali, que era para ir tentar a sorte na nova Colônia, desta vez ele obedeceu a mãe.
E 84C tinha realmente sorte, pois conseguiu ser admitido pela segunda vez em uma Colônia, e já tinha ultrapassado a idade limite de 16 anos faz tempo. Passou em todos os exames preliminares e já estava tendo aulas apra aprender a liberar sua mente.
Naquela época ainda não se dominava o controle do Sexto e Sétimo sentidos, mas faziam-se muitas experiências com conexões de pessoas a máquinas, os cientistas ainda estavam engatinhando neste processo e 84C não sabia disso, mas a única razão pela qual tinha sido aceito na Colônia era ter aceito ser uma cobaia humana, entrou em um grupo que iria fazer parte de um experimento novo, para que os computadores pudessem ter conexões melhores com as pessoas e sair do processo de reconhecimento de voz ou de gestos, que era a forma que se controlava os computadores naquela época.
Mas entre os demais HL - que já sabiam que não haviam sido aprovados - reinava outro tipo de sentimento, o de ódio e logo surgiu um líder que incentivou os outros a impedir a continuação da construção.
Era o momento certo, pois os sistemas EH ainda não estavam totalmente instalados.
Os primeiros EH eram muito rústicos, precisavam de enormes estruturas para serem ativados, dependiam das usina s atômicas estarem conectadas entre si e funcionando com pelo menos 40% de sua capacidade, consumiam um absurdo de energia e necessitavam de equipes de até 300 pessoas para controla-lo.
Ocorre que a equipe de técnicos que vinha da Argentina sofreu um grave acidente em seu comboio - ainda era inseguro voar e todo o transporte era feito por terra ou por mar - e as viagens terrestres eram feitas apenas em grandes comboios com os famosos T3, caminhões de 300 toneladas que tinham capacidade para andar (e até navegar) em qualquer tipo de terreno.
Eram veículos formidáveis, bem armados e possuiam raríssimas - para a época - unidades individuais de EH, que eram acionados em caso de ataque, algo muito comum naqueles tempos conturbados, onde o governo do Brasil foi usufruir das mordomias da CT1 e esqueceu completamente do povo.
A regra era “cada um por sí” e ao passar pelo antigo território do Mato Grosso, os 3T foram atacados e apesar de terem dizimado os atacantes sofreram muitas baixas e danos, não poderiam continuar a viagem até poderem ser consertados e o pior, muitos dos técnicos que iriam ativar o EH da nova Colônia tinham morrido na luta, seria preciso conseguir novos técnicos de EH e estes eram raros, as outras Colônias não queria abrir mão dos seus.
A CT4 estava mais próxima, mas os japoneses se recusavam a atrasar sua própria Colônia para ajudar, ela estava pronta mas eles ainda estavam aprendendo a lidar com sua nova casa e não estavam “disponíveis” segundo o último contato.
Enquanto os colonitas tentavam encontrar uma solução, o líder dos rebeldes de Brasilia organizava um ataque a CT7, aquele era um momento único, poderiam tomar conta do lugar e exigir que se permitisse a ocupação do mesmo por eles próprios.
Aquela Colônia estava em um delicado momento de fragilidade, em que as obras já estavam avançadas demais para desistir delas e seria ainda impossível resistir a uma tentativa de ocupação, principalmente sem os militares, que tinham saido de lá para ajudar o comboio que havia sido atacado.
A ocupação aconteceu aos poucos, inicialmente de forma pacífica, os HL romperam os limites que lhes eram impostos e começaram a invadir áreas restritas, que já haviam sido higienizadas.
Em outra época teriam sido simplesmente exterminados, a vida humana não tinha muito valor naqueles tempos, principalmente se eram HL.
Se os militares estivessem todos ali, ninguém teria sido poupado, a ordem é eliminar infratores, para que sirva de lição aos demais, era uma tática que já havia demonstrado funcionar em outras ocasiões, mas os poucos técnicos que estavam no lugar acharam que poderiam negociar com aquelas pessoas e nao tomaram as decisões adequadas para a situação.
Quando se percebeu havia - pela primeira vez - uma Colônia em construção, que foi dominada pelos HL e estes sentiam-se confiantes de seu plano ia funcionar, praticamente tomaram como refëns os colonitas que só tinham como defesa alguns T3.
Mas uma coisa era invadir construções vazias e cercar alguns caminhões, outra bem diferente era invadir uma usina atômica.
As tecnologia para construção de usinas tinha evoluído muito desde a construção da primeira e segunda Colônia.
Na CT2, na Sibéria não foi construída apenas uma usina, mas várias, devido as dimensões gigantescas daquela Colônia e com isso descobriu-se que é muito melhor ter várias usinas pequenas do que uma grandona, é mais fácil lidar com problemas nas pequenas usinas.
A CT7 foi construida com 6 usinas, a previsão era de que permitisse ali 50 mil habitantes então aplicou-se uma fórmula simples, 1 usina para cada 10 mil habitantes e uma de reserva.
As usinas eram construídas bem distantes do perímetro da Colônia e normalmente formavam um círculo que as ligava ao centro da Colônia através de túneis subterrâneos muito profundos e blindados com a liga de TeX, uma mistura de titânio com o elemento X. Este material era capaz de aguentar tensões e pressões de terremotos até 20 graus na escala Ritcher-Mercali, usada para medir os terremotos muito mais poderosos que passaram a ser uma constante em todo o planeta, inclusive no território do Brasil.
Mas o TeX conseguia se manter unido, e já houve casos de destruição total e sobrar apenas uma estrutura TeX, como foi o caso daquela Colônia que passou quase um mês dentro do maior Tsunami que o planeta já viu, ao final todos estavam mortos mas a estrutura TeX estava intacta.
As usinas vinham prontas, eram sempre a primeira construção de uma Colônia e os 3T foram criados justamente para poder carregar uma usina inteira, depois de instalada a usina passava a gerar toda a energia necessária para movimentar as gigantescas máquinas utilizadas na construção de uma Colônia.
A fábrica mundial de usinas era justamente a CT2, na Sibéria, que se especializou em fazer usinas para as outras Colônias e trocava-as por alimento, já que a região era rica em água e minério, mas pobre em alimentos, naquela época ainda não sabiamos que o planeta Vênus tinha excesso de minerais muito superiores a qualquer mineral terrestre.
As 6 usinas da CT7 já estavam instaladas e com capacidade de funcionar com 100%, embora isso nunca tenha sido feito. Raramente se usava mais que 50% da capacidade de uma usina. por questões de segurança e para o consumo das pessoas apenas 10% era necessário, quem consumia a maior parte da energia era justamente o EH.
E cada usina já vem com seu próprio EH funcionando, a estrutura de uma usina é algo bem interessante e é exatamente a mesma de uma CT, primeiro se cava um buraco enorme e se enchia com o TeX, em uma estrutura em forma de colméia.
Voltando ao TeX, sua composição sempre foi mantida em segredo pelos chineses, que foram os inventores deste elemento. Mesmo nos dias de hoje ainda não se sabe exatamente o que usavam e quando passamos a receber minerais direto de Vênus isso deixou de ser importante, certamente é um dos grandes segredos da humanidade.
O fato é que aquela mistura tornava a usina virtualmente inexpugnavel pelo solo e a estrutura em forma de colméia era capaz de resistir aos terremotos. Então quando uma usina era colocada em seu nicho um domo de EH a cobria e pronto, tinha-se uma mini Colônia, totalmente funcional em termos de tecnologia e segurança, apenas não era auto-suficiente em alimento.
Na verdade uma usina fazia mais do que gerar energia, ela usa água basicamente água para gerar energia, só que o processo pode - literalmente - tirar água de pedra e quanto mais suja a água melhor, porque o que o processo faz é exatamente queimar tudo que não é H2O, portanto o que sobra de “resíduo” é uma água tão pura quando a dos grandes lagos da Sibéria.
É impressionante a capacidade destes chineses, receberam uma tecnologia muito avançada e a transformaram em outra ainda superior. Gates III quase teve um troço quando recebeu uma usina novinha para sua CT1, e que era infinitamente superior a que usava e pensava ser o máximo da tecnologia.
Foi a forma que os chineses encontraram para agradecer por terem sido salvos do extermínio.
A bem da verdade não foram só os chineses que fizeram isso, havia gente de toda a velha Europa, da India, as maiores mentes do velho continente foram reunidas em um lugar seguro e altamente informatizado, fizeram milagres em muito pouco tempo.
Eram os humanos em guerra contra a natureza.
Agora os humanos voltavam a praticar a guerra entre só. É nesta situação de guerra que estavam os técnicos da CT7, ilhados em suas usinas e com o alimento já rareando pois o comboio que ia chegar é que traria as provisões necessárias. No máximo o que tinham daria para um mês, se fosse economizado.
Se fosse nos dias de hoje, até mesmo a terra poderia virar alimento, através do controle genético, mas naquela época as pessoas ainda se alimentavam de outros sólidos.
Invadir uma usina era impossível, na verdade se chegassem muito perto os invasores poderiam morrer apenas pela saturação de energia estática que se forma em um raio de até 100 metros das usinas atômicas, normalmente os EH vão além desta área e como nem micróbios podem atravessar um EH não havia risco de acidentes, mas na situação em que se encontravam os técnicos reduziram o diâmetro de seus EH e quem se aproximaasse muito das usinas simplesmente seria evaporado e a mais de 100 metros de distância é difícil fazer algo.
Os militares levaram metade dos 8 veículos 3T para ajudar o comboio atacado e quem ficou estava cercado, na verdade poderiam sair dali facilmente, tinham energia a vontade que já recebiam das usinas e se a comida acabasse poderiam sair dali ou mesmo tentar encontrar comida e voltar, pois a ordem que receberam era clara e expressa:
- Não abandonem o local em nenhuma hipótese.
E ainda era para evitar o confronto com os HL.
Só que os HL queriam justamente o contrário e diferente das usinas os T3 podiam ser atacados por baixo, foi assim que os atacantes do comboio que vinha da Argentina conseguiram destrui 2 dos 10 T3 que passavam em seu território e deixar outros 5 sem condições de continuar a viagem, deve ter sido uma batalha terrível.
Atacar os T3 da CT7 seria bem mais fácil pois não estavam em movimento, mas por outro lado estavam esperando um ataque.
Um EH pode penetrar alguns centimetros no solo e é uma barreira eficiente contra tudo que conhecemos, mas não há como proteger um veículo por baixo, o EH não tem como penetrar tão profundamente no solo e não há como criar o campo entre um sólido e outro.
Certamente um túnel bem construído e umas cargas de explosivo podem fazer milagres, não era muito difícil mandar os 3T para os ares. Explosivo é o que não faltava no lugar e foi depois desta experiência que os construtores de Colônias aprenderam a cuidar melhor deles.
Sem que fosse percebido os rebeldes foram roubando explosivos durante as obras, era relativamente fácil roubar explosivos, os RbP é que lidavam com eles e eram fáceis de serem enganados, os rebeldes tinham uma carga considerável de explosivos sob seu domínio.
Escavar o solo também era brincadeira de criança, na verdade a especialidade da humanidade, depois que não pode mais viver na superfície foi aprender técnicas de escavar o solo, se não fossem os terremotos, cada vez mais frequentes, seria muito mais simples viver abaixo da superfície do que nas Colônias.
E máquinas não faltavam, quase todo o maquinário das primeiras Colônias era desenvolvido para escavar o solo, havia até mesmo máquinas individuais próprias para os humanos usarem como uma vestimenta, apelidado de traje-tatú, que usava o poder do EH para escavar.
Humanos são muito mais versáteis que RbP nestas tarefas e a bem da verdade os RbP daquela época eram bem burrinhos, só serviam mesmo para o trabalho pesado, eram inúteis para trabalhos que exigiam perícia ou destreza.
Nos T3 havia excelentes sismógrafos, com os quais se podia medir a atividade no terreno, não seria tão simples escavar por baixo de um e pegar a tripulação de surpresa, mas os rebeldes tinham um plano.
Um plano que será conhecido no segundo capítulo desta saga… onde o 84C também se tornará alguém bem conhecido.

MAIS SENTIDOS

Quais eram os 5 sentidos conhecidos durante o S21? Vamos lá…
  1. Visão;
  2. Audição;
  3. Olfato;
  4. Paladar;
  5. Tato;
Todos estes sentidos já eram reproduzidos pelos computadores no S21, alguns com mais eficiência que outros, mas todos eram possívels de ser digitalizados.
Já nesta época O Sexto Sentido era do conhecimento humano, mas era negado cientificamente, tanto que as pessoas com capacidades cognitivas eram consideradas anormais, ou mais corretamente dizendo, pára-normais.
Mas qual é exatamente o sexto sentido?
Hoje sabemos que não haviam apenas 6 sentidos mas na verdade 7 e especula-se um oitavo sentido que ainda não é dominado pela ciência, mas será, sabemos que ele existe, é questão de descobrir como ativa-lo de forma controlada.
Sabe-se atualmente que o Sexto Sentido é uma capacidade de comunicação da mente, podemos dizer que é uma forma do ser humano se comunicar mentalmente com outro.
Já o Sétimo Sentido corresponde a um outro tipo de atividade, realizada também com a mente, também já era conhecido pelo ser humano, mas estava incluído no rol das capacidades do Sexto Sentido, que hoje sabemos serem coisas bem diferentes e localizadas em áreas distintas do cérebro, áreas que não funcionam se não forem corretamente estimuladas.
O Sexto Sentido cuida apenas da comunicação, isso explica porque algumas pessoas conseguiam prever coisas que iriam acontecer e eram chamados de visionários, na verdade não estavam tendo visões ou adivinhando o futuro, ou o passado, apenas estavam em contato com o cérebro de outras pessoas e sem saber captavam fragmentos de conhecimento. Uma pessoa que “adivinha” cartas que a outra tem na mão apenas lê as mensagens emitidas pelo cérebro desta. Da mesma forma quem “adivinha” um resultado de loteria apenas leu um resultado em que outro pensava e que por mera coincidência era o correto. “Adivinhar” o passado então é algo estupidamente simples, basta que a outra pessoa esteja pensando nele, para um cérebro mais sensitivo receber as informações.
Já o Sétimo Sentido é algo bem mais complexo, trata-se de telecinésia, ou a capacidade de comandar algumas estruturas naturais dentro de um raio limitado de operação, ninguém ainda descobriu como isso funciona, mas sabemos que funciona.
O Oitavo Sentido é mais complexo, trata-se de uma capacidade de entender resíduos que vão além do tempo e espaço, muitas vezes confundido com comunicação com seres já mortos, mas a ciência prefere acreditar que é uma forma da mente viajar no tempo, se for utilizado em conjunto com os outros dois permitiria realmente a uma pessoa prever o futuro, já que ela poderia avançar seus sentidos no tempo e se comunicar com um ser daquela época.
Como o Oitavo Sentido não é controlado vamos esquece-lo por hora e nos concentrar no que é dominado pela ciência atual.
Portanto o colonita do S23 tem as seguintes capacidades:
  1. Visão;
  2. Audição;
  3. Olfato;
  4. Paladar;
  5. Tato;
  6. Telecontato;
  7. Telecinésia;
Nosso cérebro é bastante complexo, a ciência já conhecia 3 opções do poder do pensamento, a Cognição, a Volição e o Afeto, estas funções o homem já sabia transmitir, mas não percebia que usava seu o Sexto Sentido para isso.
O Telecontato, permite a um cérebro se comunicar com o outro, acreditava-se que Cognição, Volição e Afeto eram atividades separadas mas são apenas manifestações do Sexto Sentido e que são transmididas as outras pessoas.
Cognição é a arte de aprender, de captar, faz mesmo papel que o ouvido faz para a fala, o cognitivo avançado consegue pereceber melhor tudo que o cerca, poderia fechar os olhos e ainda assim “ver” tudo a seu redor apenas com o poder de captação do seu Sexto Sentido.
A Volição é a capacidade de entender melhor as informações recebidas, é utilizada no julgamento das ações que realizamos.
O Afeto é nossa capacidade de impor nosso estado de espírito em um ambiente, se estamos tristes tornamos tristes quem está a nossa volta, se estamos felizes então enviamos esta informação. Como todas as pessoas tiveram seus sentidos estimulados e ampliados esta capacidade ficou bastante reduzida no homem do S23.
Já a telecinésia foi separada dos demais e entendida como um Sétimo Sentido porque está em uma área diferente do cérebro e funciona de forma independente.
É a capacidade de “tocar” e manipular em nível molecular ou espectral a alguns tipos mais sensíveis de elementos presentes na natureza ou criados pelo homem. Os atuais sistemas cibernéticos são ricos neste tipo de material e portanto mais sensiveis a este contato. Tanto que os I2 não necessitam de qualquer tipo de conector para se comunicar com o cérebro, basta que estejam a uma determinada distância, que varia de uma pessoa para outra.
Antigamente existiam na forma de objetos, brincos, botões, cartões e até implantes, mas atualmente o código único é embutido genéticamente nas pessoas e o implante de dois minúsculos DND permitem que as pessoas estejam livres de usar qualquer objeto, sem contar que é impossível alguém conseguir usar o código genético de outra pessoa.
Nos equipamentos antigos era usada uma senha que podia ser ativada de várias formas, desde o DNA de uma pessoa até sua voz ou digitais, mas estes formatos revelaram ser facilmente reproduziveis ou pirateados e há diversos casos de problemas com o uso de senhas roubadas, mas isso já não ocorre mais.
Aprendendo a usar os sentidos corretamente, em conjunto com a formidável capacidade dos sistemas cibernéticos existentes o ser humano pode se comunicar entre sí sem usar palavras ou gestos, basta enviar ondas de pensamento e estas são reproduzidas pelos equipamentos de transmissão e chegam quase instantaneamente a qualquer local conectado.
E mesmo sem o uso de equipamentos o homem que domina estes sentidos, pode estimular objetos a partir da telecinésia e também pode se comunicar com alguns animais, como o golfinho e o elefante ou o macado, mas infelizmente estes animais, com excessão do macaco estão em extinção e não há macacos ou qualquer outro animal nas Colônias, elas são constantemente esterilizadas preservando apenas o ser humano e nem a maioria dos micróbios sobrevivem nos ambientes de uma Colônia.
As experiências com macacos foram proibidas quando se percebeu que o homem podia comandar o animal facilmente, usando estes dois sentidos extras, era possível praticamente controlar remotamente qualquer tipo de macaco com estas capacidades, havia apenas um pequeno inconveniente… o macaco morria após a experiência, aparentemente seu cérebro perdia a capacidade de se auto-comandar após ser abandonado pelo controle do homem e com isso ocorria uma falência múltipla de seus orgãos, nunca conseguiram reverter isso e as experiências foram proibidas e não foi por pena dos macacos mas por medo que algum macaco conseguisse fazer o contrário.
Não se sabe de experiências realizadas com Golfinhos ou Elefantes, mas há histórias de contatos entre humanos e estes animais.
Também é possível um homem controlar outro que tenha um cérebro inferiormente estimuladao, mas atualmente os cérebros são estimulados artificialmente logo após o nascimentoe raramente uma pessoa não tem controle total de sua mente, de forma que somente sob efeito de alguma droga um homem poderia ter seu cérebro controlado por outro e o resultado aparentemente será o mesmo relativo ao macaco, alguém vai morrer se for tentado.
Mas controlar robos ou outros dispositivos cibernéticos ou mesmo implantes cyborgs no próprio corpo é outra história, a tecnologia atual permite fazer isso com um treinamento simples, as crianças aprendem primeiro a controlar seus I2 e depois a dominar seus outros sentidos, até porque seu aprendizado é muito mais eficiente depois que controlam o I2.
E nosso cérebro é poupado, cada pessoa carrega consigo um implante de pelo menos dois sistemas DND (um é para backup) com capacidade igual ou superior a de nosso próprio cérebro que é bastante eficiente para quardar coisas mas pouco eficiente no acesso a elas, que acontece de forma caótica.
Com o uso dos sistemas auxiliares qualquer pessoa se torna uma enciclopédia ambulante sobre os assuntos que quiser dominar, isso é especialmente útil aos cientistas, que podem ter ao alcance do pensamento todo o conhecimento da humanidade, os cientistas mais radicais costumam carregar um anel em volta do cérebro com pastilhas contendo até mil DNDs, ou seja, tem a sua fisposição até mil cérebros e são treinados para aprender a lidar com tanto conhecimento, coisa que a maioria das pessoas comuns não consegue.
Toda essa parafernália nos torna muito mais produtivos, mas curiosamente a maioria das pessoas prefere não fazer absolutamente nada útil nos seus primeiros 100 anos, quase todos só percebem a importância de ser útil após este tempo, é como se uma pessoa tivesse que viver várias vidas para entender a importância de fazer algo para alguém que não seja a sí próprio.
Mas funciona, os mais velhos cuidam com muito carinho do interesse dos mais novos e com isso a humanidade tem progredido bastante em relação ao que era até o S21, quando descobriu que podia fazer mais do se comunicar pela fala, pela escrita ou pelos gestos.
É assim que chegamos ao espaço, mas ainda não encontramos indícios de outros seres, que atualmente tem sido nossa prioridade, há muitos indícios de que eles existem, mas é evidente que nos evitam ao máximo.